Lúcidas #17 | Para as amigas da amiga que se separa - um ano depois
Depois do pronto-socorro, o Carnaval: tempo, amizade e a certeza de que a vida pode ser muitas
Esse texto nasce com dois meses de atraso, mas vamos combinar que “um ano e dois meses depois” não ficaria muito fluido no título. E, mais importante: se eu escrevesse exatos 12 meses após a separação, não teria passado pela grande catarse dessa nova fase da vida — o primeiro Carnaval solteira, vivido com as amigas da amiga que se separa.
Foi na rua com elas que eu percebi: existe um tipo de vida que a gente só encontra no improviso. Ela vem em forma de bloco, em coro com outras mulheres que também estão dizendo sim pro que ainda vem.
Se a morte de alguém próximo deixa quase mastigável de tão real a ideia de que a vida acaba, ouso dizer que um Carnaval acompanhada de mulheres que te amam (há décadas ou semanas) esfrega na cara como glitter uma epifania:
a vida pode ser muitas.
Você achava que seria uma coisa e, quando vê, é outra. Preencha "coisa” com estado civil, carreira, endereço, maternidade, estilo de vida. Isso pode ser uma fonte de medo ou ansiedade terrível- afinal, quem quer mudar tudo ao mesmo tempo aos 43 anos? -, mas escolhi olhar pra essas possibilidades com uma curiosidade empolgada. Até uma pitada de orgulho. E dançar conforme a marchinha.
A conclusão de sempre, e cada vez mais firme, é: assim como as nossas fantasias de muito tule e pouco orçamento, essas novas vidas possíveis ficam mais brilhantes quando costuradas com amigas. Prometo que esse foi o último trocadilho que fiz com Carnaval até 2026.
Essa não é uma newsletter sobre Carnaval. É sobre tempo. E, com o perdão da palavra estonada, sobre gratidão.
Um ano e dois meses atrás escrevi a parte 1 desse texto, que se transformou num dos vídeos mais marcantes da curta história da Lúcidas. Imediatamente após a separação, as amigas me salvaram de muitas formas. Elas foram o pronto-socorro — me atenderam em plantão emocional com pizza, sofá, cafuné, escuta e palavras do tipo: “não precisa ser forte agora” ou, melhor ainda, “tá gata demais”.
Mas era só o começo.
Foram elas que ouviram, pacientemente, as mesmas histórias do casamento acabado dez, vinte vezes. Não por falta de assunto, mas porque eu ainda não sabia exatamente onde aquilo tudo doía. E às vezes, pra localizar a dor, a gente precisa contá-la em voz alta até ela mudar de forma.
Elas aplaudiram meus dates desastrosos como se fosse prime time do entretenimento. Não vou dizer que não julgaram os crushes malucos porque às vezes o julgamento, gente, ele é necessário. Mas pelo menos deram risada. E eu entendi que metade da graça das minhas aventuras de solteira é fazer as minhas amigas rirem.
Abriram suas casas toda vez que eu me convidei pro almoço de domingo. O domingo pode ser especialmente desafiador pra uma configuração familiar nova e aqui preciso fazer essa ressalva: eu não tenho família em São Paulo. A minha família, aqui, são as minhas amigas.
Elas também me convidaram. Pra entrar em grupos de whatsapp de mulheres que curtem fazer programinhas pela cidade, pra visitá-las em outra cidade, pra viajar, pra atualizar como tá a vida por call, pra cafés. Que bom que eu fui.
E me visitaram. Vieram de longe e de perto, dormir de conchinha comigo ou tomar um sol no horário de almoço. Me ajudando a ter certeza de que o lar que eu criei nesse último ano e dois meses é o melhor possível pra gente.
Numa dessas visitas recentes, recebi uma amiga que tinha recém se separado. Levei pra piscina, pro samba e pro vinho. Incentivei a beijar um semi-feio e a baixar um app. Cozinhei pra ela enquanto ouvia as histórias, dançamos na sala. Quando ela voltou pra casa me garantindo que saía melhor do que chegou, pensei três coisas. 1. Aprendi com as melhores. 2. Que bom que foi, especialmente pra mim. 3. Espero que as amigas que me cuidaram tenham se sentido um pouquinho assim também.
As vidas serão muitas. Algumas mudanças de rumo vão ser macias, outras vão nos levar pro buraco antes de nos levantar. Os amores também virão em muitas formas — que sorte a minha que o delas está garantido.
E que sorte saber, agora, que aprender a cuidar é também um jeito de agradecer.
Um beijo,
Lari Magrisso
Fundadora da Lúcidas
Me escreve? lari@lucidas.cc
Coisa bem linda!! Eu também sou a novela das minhas amigas casadas. Às vezes a história é boa, às vezes, uma cagada, mas sempre entretenimento de qualidade 😂❤️