Lúcidas #15 | Para as amigas da amiga que se separa
Vivi para contar que as primeiras semanas de travessia serão menos impossíveis justamente porque há essa instituição
Com alguma sorte, se vive com amigas os grandes momentos da vida. E infelizmente alguns deles serão avassaladores como uma separação. Vivi para contar que as primeiras semanas de travessia serão menos impossíveis justamente porque há essa instituição: as amigas da amiga que se separa.
Um pouco como agradecimento, um pouco para espalhar a palavra, listo algumas diferencinhas que não salvam o mundo, mas, como diz o poema, podem salvar o minuto.
Convém fazer estoque de biscoitos doces, salgados e principalmente metafóricos. Há poucas horas na vida de uma mulher em que ela precisa tanto de um reforço na autoestima como quando se separa.
Encher os bolsos de piadas, Kleenex, chocolatinhos, memes, trechos de livros. De lembranças ruins quando ela achar que perdeu demais, de lembranças boas quando concluir que os anos de relacionamento foram em vão.
Haverá momentos de deixar desabar, de fingir que você acredita que ela está ótima, de segurar a mão quase na ponta dos dedos quando ela descer fundo com uma lanterna na cabeça procurando seus porquês, comos, quandos, ondes. Paciência para ouvir as mesmas conversas muitas vezes, ao vivo, por texto, áudio, vídeo e holograma.
Há que ser um pouco equilibrista se quiser ser amiga da amiga que se separa para andar sobre as mudanças de vontades, opiniões, sonhos, humores. E bastante rígida para vetar rompantes como querer dar entrada em um apartamento ou cortar a franja.
Das praticidades: lembrá-la de que existem ajudas, caronas, braços e olhos extras. Pra escolher o tecido do estofado, desempilhar as caixas, aprovar a nova foto de perfil.
Comidas. Panelas borbulhantes na lenha ou delivery de lanches duvidosos para garantir ao menos um conforto quando todo resto é areia movediça. Bebidas. Chás, águas de coco, espumantes. Lembrar de salvar o minuto.
Convites. Pra não passar aquela data sozinha, resolver burocracia, ver filme ruim e dançar música boa, fazer nada, pra uma videochamada agora, tá fazendo o quê? Faça muitos convites mesmo que ela recuse outros tantos, sabendo que pode mudar de ideia e que não vai ser uma boa companhia.
Deixá-la sozinha o tempo que precisar, lembrá-la de que não tem que nada e de que pode tudo, que não precisa fazer sala, que pode ficar em silêncio.
Clichês. Tenha à mão as certezas de que tudo passa, que chorar faz bem, que não tem jeito certo de viver um luto, que vamos sair melhores dessa.
Porque vamos. Porque estamos comprometidas a viver os grandes momentos da vida, mesmo os avassaladores. E porque existem as amigas da amiga que se separa.
Um beijo,
Larissa Magrisso
Fundadora e editora-chefe
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